A investigadora barcelense Cláudia Amorim quer transformar resíduos num produto medicinal. A ideia surgiu no âmbito do doutoramento no ramo de Bioengenharia de Sistemas, que está a realizar na Universidade do Minho, em parceria com o MIT.
A ideia, conta ao JB, passa por usar resíduos linocelulósicos, como são os resíduos agro-industriais – ou seja, casca de banana ou de castanha, a título de exemplo –, e conseguir extrair deles compostos que podem beneficiar a saúde das pessoas. E, com isto, os três pilares da sustentabilidade estão assegurados. “Temos o pilar da economia, por um lado, porque estamos a utilizar um resíduo que é bastante abundante e, por isso, é matéria-prima barata e, por outro, estamos a produzir algo com valor acrescentado, o que do ponto de vista económico tem todas as vantagens; do ponto de vista ambiental, estamos a fazer uma reciclagem de um resíduo, que acaba por ser uma espécie de incómodo; e, como estamos a produzir compostos que fazem bem à saúde das pessoas, temos aqui um outro pilar, que é o da sociedade”, explica a investigadora.
O projecto, já o percebemos, tem como finalidade o bem-estar das pessoas, com Cláudia a focar-se na aplicação alimentar. Mais concretamente, a investigadora quer produzir xilooligossacarídeos, mais conhecidos por XOs, que costumam ser incorporados, por exemplo, em alimentos funcionais. Cláudia Amorim explica: “Os XOs são um tipo de prebióticos, ou seja, compostos – no caso, “açúcares” –, que, quando são ingeridos, podem conferir benefícios à saúde do consumidor, através da modelação da microflora intestinal”. Por outras palavras, “vão estimular as bactérias benéficas que estão presentes no nosso intestino”. Para se ter uma ideia, os XOs são utilizados nas dietas para combater a obesidade, estão sob ensaio clínico para serem testados como fármacos para combater a diabetes, também são utilizados como gelificantes e podem ser utilizados também como adoçantes.
Desafio
O grande desafio de Cláudia Amorim é encontrar uma estratégia, “um processo de produção destes compostos, que seja economicamente rentável, atractivo e que tenha um produto final que funcione – portanto, também tem que passar aqui por testes de toxicidade – e chegar ao final do doutoramento e conseguir ter um produto”.
Para já, ainda numa fase inicial do projecto, a investigadora não pode ainda adiantar grandes resultados, mas “há uma procura crescente deste tipo de produtos funcionais, que contêm prebióticos”, pelo que a perspectiva de mercado é estimulante.
Cláudia Amorim tem 25 anos, é barcelense, e investigadora na área da Engenharia Biológica. O gosto pela ciência surgiu-lhe de forma natural, embora com as letras também presentes. Cláudia Amorim falou-nos de ciência e da investigação que está a desenvolver de uma forma apaixonada. E garantiu que só assim vale a pena: “Quando nós estamos no laboratório dez, 11 horas, quando venho aqui aos fins-de-semana ou aos feriados, só é possível se realmente as coisas nos entusiasmarem”. “Neste momento, tenho muita sorte por estar a fazer aquilo de que gosto, num projecto que realmente me realiza”, rematou Cláudia Amorim.
(in Jornal de Barcelos, edição de 16 de Novembro de 2016)
*Foto: DR