O piloto barcelense Joaquim Rodrigues foi o português mais bem classificado na 41.ª edição do Rally Dakar, nas motas. Naquela que foi a sua terceira participação – embora a segunda tenha terminado de forma prematura, após uma queda, logo na 1.ª etapa –, o principal objectivo do barcelense, ao serviço da Hero MotoSports, era terminar a prova. “Felizmente, consegui chegar ao final, sem quedas relevantes e bem de saúde. Fiquei muito contente”, disse Joaquim Rodrigues, numa sessão promovida pela Associação Clube Moto Galos de Barcelos. Além do desafio de participar no Dakar, este ano, houve ainda o factor extra de ser o regresso a um lugar que deixou marcas ao barcelense. Também por isso, confessou, “foi uma prova emocional”. “Na 1.ª etapa, passei logo no sítio onde me magoei no ano passado. Foi difícil, porque senti-me nervoso, uma coisa que já não me sentia há anos, numa corrida. Sabia que ia passar naquela zona e, até chegar lá, parecia que não conseguia andar de mota, que ia preso e com receio, aquele frio na barriga. Foi complicado passar lá”, recordou Joaquim Rodrigues.
Considerado “a prova mais dura do mundo”, este ano, o Dakar foi realizado, entre 6 e 17 de Janeiro, apenas num país, o Peru. “Foi um Dakar muito estranho, porque foi só num país. Muito estranho, duro, muito difícil e perigoso”, por isso, “ter acabado, foi muito bom”. Para trás, fica uma prova que não “foi desgastante fisicamente, mas psicologicamente”, com noites de quatro – ou, com sorte, cinco – horas de sono, “tal é a adrenalina, o stress, o ter que acordar cedo”, e duas delas em que teve de dormir no chão.
“Este ano, o terreno foi todo difícil, mas tivemos sorte, porque o tempo esteve sempre nublado, esteve sempre fresco” em relação ao esperado, contou o piloto de 37 anos, natural de Vila Boa. “O único problema que tive era nas mãos. Este ano, ganhei bolhas, já nem me lembrava de ganhar. Depois, dores de pulsos, dores de braços, os ombros começam a cansar, mas fisicamente não foi um Dakar desgastante, mas, claro, psicologicamente é sempre desgastante”, considerou.
Dakar em dois momentos
A alegria de terminar a prova, depois de “um ano duro”, com pouco tempo para se preparar e com “bastantes limitações”. Depois de problemas com a bomba de gasolina, com o roadbook, uma “pancada na coluna” e até uma queda onde, por momentos, deixou de saber da mota, o momento mais feliz do Dakar 2019 foi esse mesmo, o de chegar ao fim, em boas condições: “O melhor foi passar aquela linha da meta, é a melhor sensação que se tem. Mas, para chegar lá, houve momentos difíceis, momentos em que ia na mota e dizia que queria desistir. Há momentos muito difíceis, mas, quando se chega ao final, valeu a pena”.
Entre dunas e poeiras, “terreno difícil” e outras condições já descritas, Joaquim Rodrigues ficou desapontado com um colega de equipa. “Ele ficou sem gasolina e parei para o ajudar, claro, é um colega de equipa, acima de tudo é a equipa. Era uma etapa que me estava a correr muito bem, faltavam três quilómetros para chegar ao final. Mas parei e tentei rebocá-lo, mas não deu. Como ainda tinha quatro litros de gasolina, a solução foi desmontar a minha mota, para tirar os depósitos e dar-lhe gasolina. Mal dei a gasolina, ele arrancou. Fiquei lá eu a montar de novo a mota, para depois seguir. A minha mota estava toda em peças”, recordou, desiludido.
“O melhor mecânico”
Na equipa de Joaquim Rodrigues, está um outro barcelense. Filipe Barbosa tem 40 anos e é mecânico da Hero. “O Filipe começou cedo na oficina do meu pai, aprendeu mecânica com o meu pai, ia para as corridas connosco. Quando fiz a minha carreira internacional, ele continuou na equipa do meu pai, depois o meu cunhado [Paulo Gonçalves], quando foi para o estrangeiro correr, levou o Filipe para lá e ficou até agora”, contou Joaquim Rodrigues. “Considerado o melhor mecânico no Dakar”, sublinhou o piloto, Filipe Barbosa é mais do que um companheiro de equipa. “É o meu braço direito, é como se fosse meu irmão”, destacou, reforçando a importância de estar rodeados dos melhores: “Felizmente, tenho o melhor mecânico e isso ajuda-me bastante. Eu ter um problema porque ele falhou, até hoje nunca. E isso é o que te leva a ganhar corridas e a acabar corridas e a ter resultados”.
Desde sempre, atleta de “objectivos bem definidos” – “Eu sempre quis fazer disto vida” –, Joaquim Rodrigues espera que o seu futuro passe pelas motas. “Felizmente, posso dizer que sou bom nas motas, tenho muita experiência e gostava de ficar ligado às motas, ou com a equipa, ou com organizações”. “E por que não um centro de desenvolvimento desportivo em Barcelos?”, lançou Joaquim Rodrigues.
Entretanto, esta quarta-feira, o piloto barcelense é operado, para retirar os parafusos que colocou após o acidente do ano passado. Seguem-se seis semanas de recuperação e depois Joaquim Rodrigues regressa ao trabalho.
[in Jornal de Barcelos, edição de 30 de Janeiro de 2019]