Pelo décimo ano consecutivo, o bailarino barcelense Miguel Fernandes – com o seu par, Patrícia Carmo – sagrou-se campeão nacional de dança desportiva. Na sua página de Facebook, Miguel Fernandes sublinhou que este prémio é “o reconhecimento de um processo de crescimento do país e do meio” que o viu nascer e formar-se.
A sua ligação à dança começou em 2009, quase por acaso. “Surgiu por intermédio dos meus pais, que ingressaram numa turma de dança social em Rio Côvo Santa Eugénia. Como não queria ficar sozinho em casa, ia com eles e assistia às aulas”, explica ao JB Miguel Fernandes. Este foi o primeiro contacto e, do hobby à competição, a passagem foi “bastante natural, à medida que evoluía” e adquiria técnica. “Quase sem dar por isso, começou a minha preparação para competição”, recorda. E, mesmo após começar a competir, Miguel Fernandes considera que, “durante os dois primeiros anos”, a dança foi um entretenimento: “Um hobby sério e feito com compromisso, mas ainda assim um hobby. Apenas no meu terceiro ano de dança é que percebi que a competição era realmente aquilo a que eu atribuía a prioridade na minha vida”.
Miguel Fernandes é barcelense, estuda Engenharia Electrotécnica de Computadores na Universidade do Porto e representa uma Escola de Lisboa. Realidades que obrigam a uma gestão organizada, “uma boa comunicação entre todas as partes integrantes e um grande apoio familiar”. “Estou no segundo ano do meu curso e, por vezes, é bastante difícil conciliar a realidade estudante-atleta, mas com organização e um bom suporte familiar tem sido possível estar bem em todas as áreas da minha vida”, atenta o dançarino barcelense.
Da exigência à libertação
Miguel Fernandes treina entre oito a dez horas semanais com Patrícia Carmo – que é das Caldas da Rainha. Trabalhar a dois, sublinha, “exige compreensão, entendimento, uma boa comunicação e objectivos comuns”. O facto de terem uma “óptima relação fora do ambiente da dança” é, porventura, um dos “principais factores de sucesso” da parceria.
Entre a arte e o desporto, “a dança é a expressão artística que conseguimos atingir através do desafio dos limites do nosso corpo”. Por isso mesmo, Miguel Fernandes gosta de a colocar numa “categoria própria”, porque a dança “não vive sem a componente da arte, nem sem a parte desportiva”. Mas, e se fosse obrigado a escolher, o bailarino barcelense julga mais vantajoso “olhar para a dança como uma aproximação da parte artística em desfavor da desportiva”.
“Verdadeiro e instintivo”, assim se caracteriza enquanto bailarino, Miguel Fernandes fala em “libertação”, quando entra na pista. “É o momento em que o cérebro relaxa, a adrenalina sobe e o instinto assume um papel preponderante. Para mim, é o momento pelo qual qualquer dançarino anseia. É o momento em que nos dão a oportunidade de expressar o que quisermos”, explica ao JB o bailarino de 20 anos, de Rio Côvo Santa Eugénia. E, em dez anos de dança, Miguel Fernandes conquistou já dez títulos de campeão nacional. O percurso faz-se ao ritmo do samba, cha-cha, rumba, passodoble e jive e tem sido uma descoberta. “É incrível a quantidade de coisas boas que nos acontecem quando trabalhamos para um objectivo, sem exigir nada em troca. Guardo da dança as melhores memórias da minha vida e sei que assim continuará a ser. Destaco, acima de tudo, o meu crescimento, a formação pessoal que consegui ao viver num mundo de competição como este, as pessoas que se cruzaram comigo ao longo do caminho e o compromisso e apoio dos meus familiares. Há títulos que me enchem de orgulho, mas que apenas permanecem enraizados na minha memória porque tenho consciência do processo que atravessei para os obter”, conta ao JB.
Apesar do percurso e trajecto bem reconhecido, Miguel Fernandes sente que é importante assegurar o seu futuro profissional, com formação superior. “O meio artístico/desportivo continua a ser um meio incerto do qual não devemos depender inteiramente, na minha opinião”, nota. Basta pensar que, nas provas de participação fechada, como são o caso dos Europeus e Mundiais, a Federação Portuguesa de Dança Desportiva tem uma contribuição nas despesas da viagem. Fora isso, depende sempre daquilo a que chama ‘paitrocínios’”.
Miguel Fernandes espera continuar a contribuir para o reconhecimento internacional de Portugal: “Os meus objectivos passam por inspirar as gerações mais jovens de dançarinos portugueses a acreditar que Portugal tem sempre uma palavra a dizer quando entra em pista e, para isso, é necessário trabalhar para os recordes nacionais, para levar a bandeira portuguesa o mais longe possível em todas as competições internacionais”. Entretanto, este fim-de-semana, Miguel Fernandes compete no Portugal Open, “já a pensar nos objectivos mais exigentes, que são o Mundial e o Europeu”.
*Foto: DR
[Publicado em “Jornal de Barcelos”, edição de 6 de Março de 2019]